sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Os girassóis e nós



Eles são submissos. Mas não há sofrimento nessa submissão. A sabedoria vegetal os conduz a uma forma de seguimento surpreendente. Fidelidade incondicional que os determina no mundo, mas sem escravizá-los.

A lógica é simples, não há conflito naquele que está no lugar certo, fazendo o que deveria. É a regra da vida que não passa pela força do argumento, nem tampouco no aprendizado dos livros. É a força natural que conduz o caule, ordenando e determinando que a rosa realize o giro, toda vez que mudar a direção do Regente.

Estão mergulhados numa forma de saber milenar, regra que a criação fez questão de deixar na memória da espécie. Eles não podem sobreviver sem a força que os ilumina. Por isso, estão entregues a intermitentes e místicos movimentos de procura. Eles giram que querem o Sol. Eles são girassois.

Deles me aproximo. Penso no meu destino de ser humano. Penso no quanto eu também sou necessitado de voltar-me para uma força regente, absoluta, determinante. Preciso de Deus. Se para Ele não me volto corro o risco de me desprender da minha possibilidade de ser feliz. É nEle que o meu sentido está todo contido. Ele resguarda o infinito de tudo que ainda posso ser. Descubro maravilhado. Mas no finito que me envolve posso descobrir o desafio de antecipar no tempo, o que nEle já está realizado.



Então intuo. Deus me dá aos poucos, em partes, dia a dia, em fragmentos.



Eu dEle me recebo, assim como o girassol recebe do Sol, porque não pode sobreviver sem sua luz. A flor condensa, ainda que de forma limitada, porque é criatura, o todo de sua natureza que o Sol potencializa.

O mesmo é comigo. O mesmo é com você. Deus é nosso sol e nós não poderíamos chegar a ser quem somos, em essência, se nEle não colocarmos a direção dos nossos olhos.

Cada vez que nosso olhar se desvia da sua regência, incorremos no risco de fazer ser o nosso sol, o que na verdade não passa de luz artificial.


Substituição desastrosa que chamamos de idolatria. Uma força humana colocada no lugar de Deus.

A vida é o lugar da Revelação divina. É na força da história que descobrimos os rastros do Sagrado. Não há nenhum problema em descobrir nas realidades humanas algumas escadarias que possam nos ajudar a chegar ao céu. Mas não podemos pensar que a escadaria é o lugar definitivo de nossa busca. Parar os nossos olhos no humano que nos fala sobre Deus é o mesmo que distribuir fragmentos de polvora pelos cômodos de nosso morada. Um risco que não podemos correr.

Tudo que é humano é frágil, temporário, limitado. Não é ele que pode nos salvar. Ele é apenas um condutor. É depois dele que podemos encontrar o que verdadeiramente nos importa. Ele, o fundamento de tudo o que nos faz ser o que somos. Ele, o criador de toda realidade. Deus trino, onipotente, fonte de toda luz.



Sejamos como os girassois.



Uma coisa é certa, nós estamos no mesmo campo. Há em cada um de nós uma essência que nos orienta para o verdadeiro lugar que precisamos chegar, mas nem sempre realizamos o movimento da procura pela luz.

Sejamos afeitos a esse movimento místico, natural. Não prenda os seus olhos no oposto de sua felicidade. Não queira o engano dos artifícios que insistem em distrair nossa percepção. Não podemos substituir o essencial pelo acidental. É a nossa realização que está em jogo.



Girassol só pode ser feliz se para o Sol tiver orientado. É por isso que eles não perdem tempo com as sombras.

Eles já sabem, mas nós precisamos aprender.






[Padre Fábio de Melo]



mais que um texto, um exemplo a ser seguido.

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